90% de eficácia: como drones são usados para exterminar mosquito da dengue

Para frear a população de mosquitos Aedes aegypti, responsáveis pela transmissão da dengue e outras doenças, cientistas têm recorrido à tecnologia para desenvolver técnicas de controle de natalidade dessas pragas urbanas. Uma das mais recentes é a liberação de mosquitos estéreis através de drones.

Quem está por trás desse método é o cientista brasileiro Ricardo Machado, que trabalha desde 2002 em parceria com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), órgão de controle nuclear da ONU (Organização das Nações Unidas).

Taxa de eficiência pode chegar a 90%

Essa estratégia se beneficiou de uma primeira tecnologia, já em uso em muitos lugares, batizada de TIE (Técnica do Inseto Estéril), que nada mais é do que a esterilização dos mosquitos machos através de irradiação.

Método não utiliza inseticidas e tem uma taxa de eficiência que pode chegar a 90%, a depender da sistematização da soltura e da conciliação com outras políticas públicas de controle vetorial.

As fêmeas dessa espécie só copulam uma vez na vida. Ao se acasalarem com machos estéreis, elas não conseguem produzir descendentes porque os ovos também nascem estéreis, reduzindo a população de insetos ao longo do tempo.

A agência da ONU passou a coordenar um programa de cooperação técnica com os países interessados em utilizar essa tecnologia. Além dos EUA e da Polinésia Francesa, o Brasil também demonstrou interesse.

Recomendação de uso no Brasil. Em dezembro do ano passado, a Coordenação Geral de Vigilâncias das Arboviroses do Ministério da Saúde publicou uma nota informativa com orientações para implementação de novas tecnologias de controle vetorial em municípios com mais de 100 mil habitantes. Entre elas, recomendava a Técnica do Inseto Estéril.

País já registrou 4.207 mortes confirmadas por dengue e mais de 6,1 milhões de casos prováveis em 2024. Esse número de óbitos equivale a 23 óbitos por dia. Em 2023 foram 1,6 milhão de casos e 1.179 mortes.

Por terra e por ar

Inicialmente, a Técnica do Inseto Estéril previa a soltura dos mosquitos apenas por terra. Porém, buscando melhorar a eficiência do método, Machado passou a desenvolver pesquisas para que essa soltura pudesse ser feita através de drones. Os equipamentos são capazes de liberar um maior volume de insetos, em uma área maior e de forma mais homogênea, aprimorando a TIE.

Na soltura por terra, os machos estéreis são armazenados em tambores e são liberados semanalmente em carros abertos. Já o método de soltura aérea possibilita reduzir em 90% a população dos mosquitos e novos casos da doença entre três e quatro semanas. No caso da soltura terrestre, esses índices são atingidos entre três e quatro meses, justifica o cientista brasileiro, que lidera o projeto.

Um drone pequeno tem capacidade de fazer a soltura de 17 mil insetos por voo, durante dez minutos em uma área de 100 mil metros quadrados. Ou seja, é possível lançar quase 300 mil insetos por dia.

A soltura por drones é muito mais rápida, de baixo custo e fácil operação, possibilitando lançar maiores quantidades de insetos de forma mais homogênea. Isso se reflete em mais locais tratados e em maiores chances dos machos estéreis encontrarem fêmeas selvagens no interior dos terrenos, onde são localizados os criadouros.
Ricardo Machado, cientista

Também é possível liberar os mosquitos de forma descentralizada nas cidades, de acordo com as estratégias de vigilância adotadas pelos agentes de saúde locais. Ainda segundo o cientista, em regiões com grande probabilidade de surtos de dengue, como as afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul, essa tecnologia pode ser uma aliada no combate à doença.

A pesquisa foi desenvolvida no âmbito do Programa Biota (Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade de São Paulo) da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado), em parceria com a Embrapa Instrumentação e apoio do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), também da Fapesp.

Aplicabilidade testada

Soltura de mosquitos estéreis por drone é mais rápida e eficaz Soltura de mosquitos estéreis por drone é mais rápida e eficaz Imagem: Divulgação

Alguns lugares no mundo, como a Polinésia Francesa e as Ilhas Cook, já testaram a tecnologia — através de projeto piloto. No Brasil, Recife também avaliou o método entre os anos de 2018 e 2021. Em média, 500 mil mosquitos estéreis por semana eram soltos, tanto através de drones quanto por terra.

Resultados com drones foram melhores. A Secretaria de Saúde do Recife informou, à época, que a técnica de soltura por terra reduziu em 25% a população do Aedes aegypti nos bairros onde foi aplicada. Já os resultados com drones foram superiores a 80%.

No Recife, os mosquitos eram esterilizados no Departamento de Energia Nuclear da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Eles eram marcados com pó fluorescente, para ser possível a distinção entre mosquitos estéreis e selvagens. Na época do projeto piloto, a Prefeitura da cidade chegou a inaugurar o Cemer (Centro de Emergência de Mosquitos Estéreis), com um investimento de R$ 3,2 milhões. O local tinha capacidade de produção de 250 mil mosquitos por semana.

A Secretaria Municipal de Saúde informou que atualmente tem utilizado estratégias mais focadas no interior dos imóveis, como a técnica conhecida como ovitrampas, uma espécie de armadilha para evitar a eclosão dos ovos dos mosquitos.

FONTE:

https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2024/07/01/dengue-drones-reduzir-populacao-mosquito-aedes-aegypti.htm