Hospital A.C.Camargo e J&J MedTech usam IA e celular para monitorar paciente após cirurgia; complicações caem 67%

Desenvolvida em parceria com a startup Kidopi, a tecnologia permite que o paciente fique menos tempo internado e possa ir para casa, sendo direcionado ao hospital só se houver necessidade.

Fabrício Campolina (à esq.), presidente da J&J MedTech Brasil, e Samuel Aguiar Jr, líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais do A.C. Camargo — Foto: Divulgação

O câncer colorretal é o terceiro mais incidente do mundo e um problema de saúde pública para a maioria dos hospitais, visto que as cirurgias são de alta complexidade e têm grande risco de complicações. No Hospital A.C. Camargo, por exemplo, um grande desafio era o longo tempo de internação no momento pós-cirúrgico – que chegava a até oito dias.

A alternativa, então, era o paciente ir para casa e retornar ao hospital periodicamente para checagem, ou ter em casa um profissional de saúde acompanhando sua recuperação. “Queríamos monitorar de forma mais direta o paciente para permitir uma alta mais precoce e ele poder ficar menos tempo no hospital com segurança, mas este profissional do cuidado [em casa] é muito especializado e caro”, explicou Samuel Aguiar Jr., líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais do A.C. Camargo.

Era preciso uma saída mais economicamente viável. A solução surgiu em 2021, numa parceria com a empresa de tecnologia em saúde J&J MedTech e a startup Kidopi. As três empresas desenvolveram o projeto “Jornada Digital do Paciente” para fazer o acompanhamento pós-cirúrgico de pacientes em tratamento do câncer colorretal. Foi criada uma plataforma com uso de inteligência artificial, chamada de “Clevercare”, para manter contato diário com esses pacientes por 15 dias após a cirurgia.

Segundo Aguiar, a IA foi treinada com o banco de dados do A.C. Camargo, com mais de mil cirurgias. “Fizemos uma análise matemática de modelos preditores de complicações. O que é relevante, o robô aprende, e aí construímos uma árvore de decisões”, explicou ele.

Basta o paciente ter um celular. Por meio do SMS ou do WhatsApp, a ferramenta faz uma série de perguntas e interage com ele, como numa conversa, ajudando-o na tomada de decisões. Caso ele apresente algum sintoma que requeira intervenção presencial, a inteligência artificial recomenda que se dirija ao hospital e também avisa a equipe médica da situação.

Ao indicar para os pacientes ficarem em casa, a solução apresentou 99% de assertividade. Já em casos que demandavam a procura por um atendimento no pronto-socorro, a acurácia foi de 75%.

“Não estamos falando de uma conversa de chatbot. É uma ‘enfermeira navegadora’, ele [o paciente] se sente cuidado. Todas as cirurgias poderiam se beneficiar desse copiloto digital”, disse Fabrício Campolina, presidente da J&J MedTech Brasil, a Época NEGÓCIOS.

O projeto-piloto envolveu 101 participantes, e conseguiu reduzir em 67% as complicações após o procedimento cirúrgico. Além disso, o nível de satisfação dos pacientes foi de 94%, segundo as empresas.

Além de reduzir as complicações, a inovação democratizou o acesso ao tratamento e diminuiu o custo para o sistema de saúde — visto que evitou idas desnecessárias ao hospital e diminuiu o tempo de permanência do paciente internado. Hoje, o A.C. Camargo trabalha, em média, com três dias de internação hospitalar.

Mortes também foram evitadas, visto que, em alguns casos, a plataforma identificou casos graves e interveio — geralmente infecções. “Dos 101 casos, foram seis complicações que o aplicativo identificou, e aí o paciente já procurou o hospital. Ele foi de manhã, mas se fosse à tarde, o cenário seria outro. Se tivesse esperado ter febre ou dor, o desfecho seria outro. Mas aí agimos precocemente no tratamento e a intervenção foi menos agressiva”, conta o médico.

Agora, o hospital planeja expandir o uso da solução para o restante da jornada do paciente.

FONTE: https://epocanegocios.globo.com/empresas/inovacao-de-resultado/noticia/2024/07/hospital-accamargo-e-jandj-medtech-usam-ia-e-celular-para-monitorar-paciente-apos-cirurgia-complicacoes-caem-67percent.ghtml