Tecnologia avança no campo e trabalhadores se adaptam à nova fazenda digital e mecanizada

Formação profissional para o agro se amplia para preparar os profissionais que precisam lidar cada vez mais com máquinas e softwares.

A produtora rural Celina Junqueira Issa, de Carambeí, na região dos Campos Gerais do Paraná, tem na tecnologia uma aliada para otimizar o trabalho na fazenda e melhorar a produtividade. Ela utiliza as informações dos mapas de colheita — gerados por plataformas de máquinas agrícolas com tecnologia de ponta — para direcionar o trabalho na fazenda.

— Esses dados são o ponto de partida para o meu agrônomo programar a próxima safra — diz.

Celina não é a única. A tecnologia vem ganhando espaço cada vez maior nas propriedades rurais, impulsionando o mercado — com lançamentos de máquinas e ferramentas de última geração — e também já abre espaço nos ambientes de formação profissional. É o caso da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), de Guarapuava, que abriu neste ano a primeira turma do curso de Tecnologia em Big Data no Agronegócio.

O curso, que teve as 40 vagas ofertadas preenchidas, tem como foco a compreensão do grande volume de dados (big data) gerados pelos equipamentos e ferramentas aplicados na agricultura de precisão e digital.

— Formaremos profissionais aptos para contribuir para a tomada de decisão no campo. A junção da agronomia e da tecnologia é o futuro — avalia a professora Carolina Paula de Almeida, coordenadora do curso.

Curso é multidisciplinar

A proposta é formar profissionais capazes de organizar dados e transformá-los em informações e conhecimentos sistematizados, visando planejamento estratégico para as fazendas. A iniciativa uniu os departamentos de Ciência da Computação e de Agronomia.

— Em todos os setores da agropecuária, máquinas, drones e ferramentas da agricultura de precisão geram informações para serem avaliadas e interpretadas — diz o professor do Departamento de Agronomia da Unicentro, Leandro Rampim, que participou da criação do curso.

Desenvolvimento de softwares para o agronegócio, projetos de redes de sensores e de transmissão de dados em tempo real e aplicação de técnicas de inteligência artificial (IA) no auxílio à tomada de decisões no processo produtivo são só algumas das possibilidades que o profissional com essa formação superior pode encontrar.

Robson Cerqueira Mota, gerente de agricultura de precisão em uma concessionária de máquinas agrícolas de uma fabricante multinacional em Ponta Grossa (PR) , conta que a evolução é constante:

— Temos clientes que comentam que falta mão de obra para atuar com esse nível de maquinário.

— Esse curso tem a minha cara — define André Luiz Dutra da Silva, 40 anos, um dos alunos. Ele atua há 22 anos na área de prestação de serviços para o setor agrícola e viu no curso uma chance de se aprimorar na profissão.

— É uma maneira de aprofundar o olhar para as ferramentas e maximizar o potencial que elas têm— diz ele, que é consultor de vendas em uma concessionária de máquinas agrícolas do município.

O professor Richard Aderbal Gonçalves, chefe de departamento de Computação, acrescenta que a grade curricular é voltada ainda a capacitar os estudantes para aplicar os dados em soluções para os problemas no campo.

Virada de chave

A produtora Celina Issa acredita que o momento é de “virada de chave” no campo. Desde 2020 ela investe de maneira mais efetiva em tecnologia na propriedade. Além de contar com apoio da cooperativa da qual faz parte no que diz respeito à agricultura de precisão, ela procurou entender a fundo as soluções de tecnologia oferecidas pelas máquinas agrícolas e demais aportes tecnológicos da fazenda. “Elas fornecem informações cruciais para a estratégia e a implementação do negócio”, afirma.

Ela também aposta em sistemas digitais de gestão de processos para aumentar a produtividade e a saúde financeira do negócio. “Consigo entender a produção talhão a talhão”. Em uma área total de 2 mil hectares, ela cultiva soja, milho e feijão na safra de verão e trigo e cobertura verde no inverno. Na última safra de soja, a produtividade obtida na fazenda foi de 80 sacas por hectare. A média no Estado é de 62 sacas por hectare.

FONTE:

https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2024/06/18/tecnologia-avanca-no-campo-e-trabalhadores-se-adaptam-a-nova-fazenda-digital-e-mecanizada.ghtml